- 21 agosto 2015
Nas florestas brasileiras, nas matas da África Ocidental e nas praias da Tailândia, arqueólogos têm descoberto impressionantes ferramentas feitas de pedra.
Não é o resultado da habilidade manual que as torna especiais. Na realidade, um leigo pode até ter dificuldade de identificá-las como ferramentas. Elas tampouco chamam a atenção por sua idade, já que parecem datar da mesma época que as pirâmides do Egito – e não da pré-História.
O que faz esses artefatos serem tão especiais é que as mãos que os construíram e utilizaram não eram humanas.
Esses utensílios foram fabricados por chimpanzés e macacos. E os locais onde foram encontrados são a base de uma novíssima área da Ciência: a arqueologia dos primatas.
Uso de tecnologia
As ferramentas são rudimentares. O martelo de um chimpanzé ou de um macaco em nada se parece com um antigo machado feito pelo homem pré-histórico.
Mas o importante é que esses primatas desenvolveram uma cultura que tornou rotineiro o uso de uma tecnologia. Isso significa que eles entraram em sua Idade da Pedra.
Até poucas décadas atrás, os biólogos acreditavam que o ser humano era a única espécie que faz um uso extensivo de ferramentas. Mas hoje sabemos que muitos mamíferos, aves, peixes e até insetos usam objetos em seu habitat para facilitar suas vidas.
Muitos primatas fazem o mesmo, mas, via de regra, não transformam pedras em ferramentas.
"Orangotangos, bonobos e gorilas têm utilizado ferramentas de origem vegetal mas nunca foram observados usando pedras", afirma Michael Haslam, da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, e líder do projeto Primarch (sigla para Arqueologia Primata).
Segundo ele, ainda é um mistério o motivo pelo qual as ferramentas de pedra são raramente utilizadas por grandes primatas. Mas isso pode estar ligado ao fato de essas espécies passarem a maior parte do tempo em árvores. "As plantas são onipresentes no habitat dos primatas, mas pedras não", diz Haslam.
Isso significa que mesmo que um grande primata particularmente inteligente comece a usar ferramentas de pedra, não há material suficiente a seu redor para que a tradição comece a ser imitada pelos outros no grupo e seja transmitida a futuras gerações.
No entanto, os chimpanzés da África Ocidental parecem, sim, ter conseguido passar para a frente sua tecnologia com pedras, que eles usam para abrir castanhas e outras oleaginosas.
Longe do homem
A arqueologia "tradicional" se baseia na ideia de que podemos reconhecer comportamentos humanos através dos artefatos que deixamos para trás.
"Arqueólogos de primatas", liderados por Christophe Bösch, no Instituto de Antropologia Evolutiva em Leipzig, na Alemanha, aplicaram esses princípios às ferramentas dos chimpanzés.
Nas florestas da Costa do Marfim, ele e sua equipe escavaram uma área do solo a uma profundidade de 1 metro, desvendando inúmeros artefatos em pedra.
Alguns desses objetos foram trabalhados com uma precisão que apenas o homem possui. Mas outras marcas sugerem que elas foram usadas de uma maneira mais bruta, como uma ferramenta para abrir castanhas, assim como os chimpanzés da região fazem hoje.
Para Bösch, a Idade da Pedra dos chimpanzés começou nesse período, há cerca de 4,3 mil anos, ou até antes.
Os chimpanzés são nossos parentes vivos mais próximos. Mas como apenas essa comunidade na Costa do Marfim foi observada usando as ferramentas, é possível concluir que essa habilidade surgiu depois que as comunidades no centro e no oeste da África se separaram, entre 500 mil e 1 milhão de anos atrás, segundo Haslam.
Também parece que a Idade da Pedra desses chimpanzés é totalmente diferente da Idade da Pedra humana.
Há séculos existem relatos de que algumas espécies de macaco-prego brasileiro usam ferramentas de pedras, algo que foi confirmado por um estudo de 2004.
O mesmo fazem os macacos de rabo longo (Macaca fasciularis) na Tailândia, segundo pesquisa publicada em maio.
Nenhuma dessas espécies fica perto do homem na árvore evolutiva dos primatas. Por isso, cientistas acreditam que as diferentes espécies desenvolveram suas técnicas de maneira independente.
Para Haslam, tanto o macaco-prego quanto o macaco tailandês teriam conseguido transmitir o uso das ferramentas para as novas gerações. Isso significa que há uma história profunda da aplicação da pedra em pelo menos três primatas além do ser humano.
Em maio passado, arqueólogos no Quênia revelaram os detalhes de uma das ferramentas em pedra mais antigas já produzidas pelo ancestral do homem, encontrada em depósitos de 3,3 milhões de anos.
Segundo os pesquisadores, essas ferramentas foram produzidas usando técnicas semelhantes àquelas aplicadas pelos atuais chimpanzés e macacos. Ou seja: estudar esses primatas pode nos dar pistas sobre o comportamento humano na pré-História.
Diferenças no cérebro
A descoberta no Quênia revelou ainda que 700 mil anos depois das ferramentas encontradas, o homem já havia adaptado suas técnicas. Primeiro, ele passou a deliberadamente modificar as pedras para torná-la mais afiada, por exemplo.
Cerca de 1 milhão de anos depois, apareceram os primeiros bifaces, com lâminas cuidadosamente talhadas.
Mas por que nossos ancestrais aprenderam a produzir utensílios mais sofisticados, há tanto tempo, enquanto chimpanzés e macacos ainda parecem estar longe de melhorar suas técnicas?
Uma primeira ideia seria a de que nossas mãos evoluíram mais rapidamente, permitindo a manipulação de objetos. Mas um estudo da Universidade George Washington (EUA) sugere que, na realidade, as mãos humanas mudaram menos do que as dos chimpanzés nos últimos milhões de anos.
"Em termos de proporção de comprimento, as mãos humanas são mais primitivas do que as dos chimpanzés", afirma Sergio Almécija, líder do estudo. "Portanto, é possível que a diferença esteja em seus cérebros."
"A capacidade de criar ferramentas em pedra exige mais habilidades cognitivas, para que o indivíduo reconheça que se trata de um objeto útil mas também para criá-lo a partir do nada", afirma Alexandra Rosati, da Universidade Harvard.
O fato de o cérebro humano ser maior pode ter contribuído para essa evolução mais rápida. E o primatólogo Richard Wrangham acredita que esse aumento de tamanho se deveu ao desenvolvimento da culinária.
"Cérebros maiores exigem mais energia, e o ato de cozinhar aumenta a energia vinda dos alimentos, em relação a uma dieta crua", afirma Rosati.
Em uma série de experimentos, o pesquisador descobriu que chimpanzés podem apreciar os benefícios de cozinhar.
É claro que, até que esses animais aprendam a controlar o fogo (se é que um dia o farão), eles não poderão aplicar essa apreciação. Mas o trabalho de Rosait sugere que também estão presentes nos chimpanzés os caminhos cerebrais que permitiram que nossos ancestrais desenvolvessem utensílios mais avançados.
Para Haslam, é possível que esses animais ainda não tenham chegado ao limite de sua capacidade tecnológica. Mas talvez eles não tenham a chance de avançar em sua Idade da Pedra.
"Temos diminuído essas populações de maneira dramática, através da caça e da destruição de seu habitat", aponta... ( continua em http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150821_vert_earth_macacos_rm )
- DOWNLOAD PARCIAL. LARCEN, César Gonçalves. Mais uma lacônica viagem no tempo e no espaço: explorando o ciberespaço e liquefazendo fronteiras entre o moderno e o pós-moderno atravessando o campo dos Estudos Culturais. Porto Alegre: César Gonçalves Larcen Editor, 2011. 144 p. il.
- DOWNLOAD GRATUÍTO. FREE DOWNLOAD. AGUIAR, Vitor Hugo Berenhauser de. As regras do Truco Cego. Porto Alegre: César Gonçalves Larcen Editor, 2012. 58 p. il.
- DOWNLOAD GRATUÍTO. FREE DOWNLOAD. LINCK, Ricardo Ramos. LORENZI, Fabiana. Clusterização: utilizando Inteligência Artificial para agrupar pessoas. Porto Alegre: César Gonçalves Larcen Editor, 2013. 120p. il.
- DOWNLOAD GRATUÍTO. FREE DOWNLOAD. LARCEN, César Gonçalves. Pedagogias Culturais: dos estudos de mídia tradicionais ao estudo do ciberespaço em investigações no âmbito dos Estudos Culturais e da Educação. Porto Alegre: César Gonçalves Larcen Editor, 2013. 120 p.
- LARCEN, César Gonçalves. Mais uma lacônica viagem no tempo e no espaço: explorando o ciberespaço e liquefazendo fronteiras entre o moderno e o pós-moderno atravessando o campo dos Estudos Culturais [ebook]. / César Gonçalves Larcen - 2. Ed. - Canoas: César Gonçalves Larcen Editor, 2014. 102 p. ebook.: il. COMPRE AQUI: https://agbook.com.br/book/175936--MAIS_UMA_LACONICA_VIAGEM_NO_TEMPO_E_NO_ESPACO
- CALLONI, H.; LARCEN, C. G. From modern chess to liquid games: an approach based on the cultural studies field to study the modern and the post-modern education on punctual elements. CRIAR EDUCAÇÃO Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação UNESC, v. 3, p. 1-19, 2014.
http://periodicos.unesc.net/index.php/criaredu/article/view/1437
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