Sabe quando sei que falta liderança sustentável numa empresa?
Ricardo Voltolini
No final do ano passado, publiquei no Facebook uma série de posts levemente irônicos à qual dei o título de'Sabe quando sei que falta liderança sustentável numa empresa?' À época, como justificativa para as 'pérolas' oferecidas aos fiéis, amigos e seguidores, confidenciei que elas nasceram de observações da minha prática de consultor, e que, até então, as havia compartilhado apenas com alunos de pós-graduação e clientes, no âmbito restrito de aulas, workshops e palestras. Com a proximidade do segundo encontro da Plataforma Liderança Sustentável, em 14 de agosto, muitos são os que têm me indagado sobre as razões pelas quais decidi focar meu trabalho em líderes de empresas.
Costumo responder em duas partes. Na primeira, reforço o óbvio - que empresas têm enorme poder no mundo atual e que, se queremos fazer uma mudança para a sustentabilidade, não podemos ignorá-las. Na segunda, que embora não consigamos definir liderança, sabemos exatamente quais são os problemas originados por sua ausência ou escassez nas empresas. Isso vale - e muito - para a sustentabilidade.
Sei que falta liderança sustentável numa empresa, por exemplo, quando um diretor afirma a uma analista, com ar sério: "Para com esse negócio de sustentabilidade e vamos trabalhar um pouquinho, né?"
Quando o vice-presidente me diz, sem constrangimento, que sustentabilidade é importante, mas as medidas para garanti-la na gestão do negócio podem ficar para o ano que vem, pois a empresa não se encontra preparada para as mudanças necessárias. É certamente o que ele vai dizer no "ano que vem", simplesmente porque não quer aceitar as responsabilidades - e os custos - da transição para um modelo mais sustentável de negócio.
Quando o presidente diz, sem receio de parecer arrogante, que sustentabilidade está no DNA da empresa desde que ela nasceu e que, portanto, ela não precisa fazer mais nada para ser sustentável. Esta é uma das frases que mais me provocam comichão. Pelo que tem de prepotente e ingênua ao mesmo tempo. Estrutura-se na falsa ideia de que um tema contemporâneo -como é a sustentabilidade, valor deste século 21 - já venha sendo praticado pela empresa há 50, 80 ou 100 anos.
Quando quem deveria tomar a decisão de mudança, transfere a responsabilidade a alguém em posição hierárquica inferior, normalmente a menina ou menino "da responsabilidade social", um profissional júnior lotado num departamento meramente funcional, sem qualquer poder, que só vê o presidente uma vez ao ano, na festa de encerramento das atividades do ano. A diferença entre sustentabilidade para valer e sustentabilidade para constar está em quanto o tema encontra-se mais próximo de quem toma decisões. Com os anos de experiência, aprendi a identificar o estágio de sustentabilidade a partir do meu primeiro interlocutor. Mais próximo do poder, mais avançado. Mais longe, menos avançado.
Sei que falta liderança sustentável numa empresa quando o presidente cria um comitê de sustentabilidade e não aparece nem na primeira reunião para deixar claras suas crenças e expectativas. Este tipo de atitude, muito comum, revela dois problemas: (1) sustentabilidade não é um tema suficientemente importante para que eu, líder, invista meu tempo nele; (2) enquanto não tenho tempo para pensar em sustentabilidade, crio uma instância interna para fazer de conta que estamos preocupados com o tema. Uma pena. Comitês de sustentabilidade, quando bem liderados, podem ser extremamente úteis e efetivos. E existem os que são, felizmente.
Quando o presidente da empresa convence o marketing de que está na hora de botar sustentabilidade na imagem, mas se esquece de convencer os colaboradores de que ela deve estar na cultura? Lição aprendida nos últimos anos: primeiro a lição de casa, depois a comunicação. E a comunicação dever ser feita, antes de tudo, para os funcionários, colaboradores e parceiros. Se a empresa não consegue convencer os mais próximos de que se preocupa com a sustentabilidade, como espera persuadir os consumidores e a sociedade? As corporações que pularam essa lição, ainda hoje... ( continua em http://www.nosdacomunicacao.com.br/panorama_interna.asp?panorama=513&tipo=G )
Nenhum comentário:
Postar um comentário