quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Qual a diferença entre moral e ética?

Em http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/185/na-essencia-do-conflitopara-o-pesquisador-de-psicologia-moral-yves-267389-1.asp

Setembro/2012

Entrevista | Yves de La Taille

Na essência do conflito


Para o pesquisador de psicologia moral Yves de La Taille, as escolas enfrentam indisciplina e problemas de convívio porque estão transmitindo valores egoístas aos alunos


Estevan Muniz


Yves de La Taille é um popstar. Ao final de uma palestra sobre formação moral e ética em um congresso para educadores em São Paulo, os professores fazem fila para tirar fotografias ou lhe pedir para autografar um dos seus vários livros sobre educação. A razão? Ele parece trazer soluções para educadores que enfrentem, no dia a dia, graves problemas de indisciplina, desrespeito e violência com seus alunos. Professor de psicologia do desenvolvimento na Universidade de São Paulo (USP) e autor dos livros Ética para meus pais, Indisciplina e Formação ética, entre outros, La Taille não tem celular, é avesso ao consumismo e condena a vida baseada na procura pela riqueza. Para ele, o mundo vive uma crise de valores éticos e morais, e ela, obviamente, alcança os alunos. O professor acredita que falta às escolas esforço em transmitir tais princípios. Não se trata de simplesmente estabelecer regras morais: o que pode ou não pode fazer, mas da opção ética da escola, ou seja, sua compreensão sobre como deve ser a vida. Para ele, não adianta esperar que os alunos vivam harmoniosamente e solidários, se as escolas pregam que desejam formar vencedores e líderes. O professor, sozinho, sem um programa institucional, pouco pode alcançar.

Gustavo Morita
Na entrevista a seguir, ele comenta sobre a formação ética e moral, o papel da escola, a relação desta com a família e os problemas de convívio dentro das salas de aula.

Qual a diferença entre moral e ética?
Na nossa tradição filosófica e jurídica quase sempre usamos a palavra ética e a palavra moral como sinônimas, entendendo que um problema ético e um problema moral seriam transgressões às regras. Porém, existe também na tradição filosófica uma outra possibilidade. À ética reservamos a questão do modelo de vida que se deseja ter, a questão da vida boa, da existência. E à moral, o que costuma ser a sua definição habitual: um conjunto de regras e deveres, que, se não forem seguidas, correspondem a transgressões. Portanto, podemos reservar à palavra moral a pergunta "Como devo agir?" e à palavra ética a pergunta "Que vida eu quero viver?". Eu faço essa diferenciação e articulação entre moral e ética porque, do ponto de vista psicológico, ela é extremamente relevante. Para explicar como uma pessoa legitima o conjunto de regras morais é preciso saber que perspectivas éticas ela adota. A formação ética e moral caminhará nesse sentido.

Vivemos um período de crise de valores éticos e morais, um momento crítico para a convivência, segundo o senhor e diversos outros estudiosos. Como a escola pode se posicionar nesse cenário? A escola está preocupada com essas questões?
Frequentemente o que motiva uma escola a me chamar para dar uma palestra são os problemas de violência, indisciplina e desrespeito enfrentados pelos professores, uma questão, digamos, muito pragmática. Então, a questão é moral. A preocupação sobre ética praticamente não existe nas escolas, muitas nem sabem o que é ética. Tento insistir com esses educadores que não é só uma questão de moral, mas ética também. É preciso perguntar: que valores existenciais essa escola passa? Você vê algumas escolas que parecem shoppings; suas paredes suam riqueza.

As escolas têm transmitido valores que dificultam o convívio?
A escola tem de se preocupar com os valores de vida. Não que ela deva impor aos seus alunos, pois ela não tem esse direito, mas é o que está nas paredes. Tem escolas em que você entra e a primeira coisa que vê é troféu. Ou seja, ela diz: "nós somos uma escola de vencedores". Eu, sinceramente, prefiro uma escola em que a primeira coisa que se vê sejam trabalhos de alunos, símbolos ligados ao conhecimento, a alternativas ao mundo exterior. Frequentemente as escolas pensam: "vamos formar líderes". Essas escolas fazem uma opção ética clara: é preciso ser competente, vencedor e líder. Isso é um entendimento sobre o que é ser alguém na vida, que, a meu ver, não é muito coerente com depois falar de respeito e solidariedade.

Há professores que acreditam que a formação ética e moral compete à família, e não à escola. O que o senhor acha dessa postura?
Isso é totalmente absurdo. Não digo que ela não participa, mas nunca coube à família, em momento algum, esse papel. Precisa-se analisar a história da família. De que família estamos falando? De qual classe social? Famílias ricas e pobres são muito diferentes. A família é uma geometria variável. E ela sempre foi, durante muito tempo, ajudada, para não dizer dominada, pela religião. No começo do século passado, quando apareceu a escola pública, republicana e laica, havia também uma preocupação com a formação da cidadania. Colocar nas costas da família, exclusivamente, a formação moral e ética é um erro histórico. E também lógico, pois... ( continua em http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/185/na-essencia-do-conflitopara-o-pesquisador-de-psicologia-moral-yves-267389-1.asp )

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