Duas espécies de raposas do Brasil, separadas há muitos milhares de anos pela mata atlântica, estão cruzando entre si e produzindo filhotes híbridos, talvez porque a derrubada da maior parte da floresta tenha eliminado a principal barreira que existia entre elas.
As protagonistas desse esquisito namoro são a raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), típica do cerrado, e o graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus), natural dos pampas gaúchos.
Daniel Kantek/Editoria de Arte/Folhapress | ||
Raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), típica do cerrado |
Marina O.Favarini | ||
Graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus), natural dos pampas gaúchos |
Segundo pesquisadores da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), é no território do Estado de São Paulo que as duas espécies estão se misturando, e a situação inspira cuidados: dependendo de como o processo continuar, boa parte da riqueza genética original dos bichos pode acabar se perdendo.
Um dos autores da pesquisa, o doutorando maranhense Fabricio Silva Garcez, conta que a primeira pista de que havia algo esquisito acontecendo veio de um trabalho anterior (da mestranda Marina Favarini, na PUC-RS), no qual dois bichos que tinham sido classificados morfologicamente (ou seja, com base na aparência física) como L. vetulus acabaram apresentando material genético de L. gymnocercus.
PAPAI E MAMÃE
Para ser mais exato, os misteriosos animais tinham mtDNA (DNA mitocondrial) da espécie sulina. Ocorre que o mtDNA, presente apenas nas mitocôndrias, as usinas de energia das células, quase sempre é transmitido das mães para seus filhos ou filhas –em geral, nenhum animal herda o mtDNA do pai.
O dado, portanto, parecia indicar que ao menos uma fêmea de graxaim havia tido filhotes com um macho de raposinha-do-campo.
Durante seu mestrado, orientado por Eduardo Eizirik (da PUC-RS) e Ligia Tchaicka (da Universidade Estadual do Maranhão), Garcez analisou amostras de DNA de dezenas de indivíduos de ambas as espécies, colhidas numa área ampla, que vai do Maranhão ao Rio Grande do Sul. (As análises genéticas foram feitas a partir do sangue colhido de bichos capturados e de amostras da carcaça de raposas atropeladas Brasil afora, coisa que infelizmente é comum).
Além do mtDNA, a equipe estudou ainda trechos do DNA do núcleo das células, conhecidos como microssatélites (que parecem uma "gagueira" de letras químicas de DNA, com pequenos trechos que se repetem várias vezes).
Tais análises confirmaram a suspeita inicial: seis bichos paulistas tinham toda a pinta de ser híbridos, inclusive de segunda geração (ou seja, netos do cruzamento original entre as duas espécies). Cinco deles tinham, de novo, mtDNA de graxaim, enquanto o sexto indivíduo apresentou sinais de hibridização apenas no DNA do núcleo das células.
Ou seja, por enquanto parece que o cruzamento de machos de raposinha-do-campo com fêmeas de graxaim é mesmo mais comum, embora não seja a única possibilidade.
"Isso é curioso porque, em outras zonas híbridas de canídeos [o grupo dos cachorros, lobos e raposas], normalmente o macho é o da espécie de maior porte, mas no nosso caso o L. gymnocercus é maior", diz Garcez. Ainda é cedo para dizer com exatidão o que tem levado essas fêmeas a se deslocar rumo a São Paulo e por que o mesmo não estaria acontecendo com os machos da espécie sulina.
Agora no doutorado, Garcez está ampliando as análises para tentar entender em detalhes o que está acontecendo no contato entre as duas espécies, as quais formam a primeira zona híbrida de canídeos confirmada na América do Sul (na América do Norte, há o exemplo muito estudado da zona híbrida entre lobos e coiotes).
Os dados de DNA também podem confirmar a hipótese de que a hibridização é culpa da ação humana –se ela for um evento recente, cresce a possibilidade de um elo com a derrubada da mata atlântica. Afinal, as duas espécies são típicas de ambientes abertos, sem floresta densa. "Quando você remove essa barreira, com o aparecimento de pastagens e plantações no lugar da mata, a tendência é que elas acabem entrando em contato", diz Garcez.
O gênero Lycalopex, ao qual ambas as raposas pertencem, diversificou-se há relativamente pouco tempo em termos evolutivos (a partir de cerca de 1 milhão de anos atrás). Mesmo assim, apesar de serem fisicamente parecidas e de conseguirem cruzar entre si, as espécies possuem hábitos consideravelmente diferentes. A raposinha-do-campo normalmente se alimenta de cupins e frutas do cerrado, enquanto o graxaim, como bom gaúcho, inclui uma proporção maior de carne em sua dieta.
"Se todos se tornarem híbridos, vai ser algo muito ruim porque, na prática, duas espécies vão acabar desaparecendo por causa da intervenção humana", diz Garcez.
–
CASAMENTO INESPERADO
Entenda a mistura entre as duas espécies de raposas
1 – As áreas de vegetação aberta do Brasil abrigam duas espécies de raposas, a Lycalopex vetulus(raposinha- do-cerrado) e a L. gymnocercus (graxaim-do-campo). A segunda espécie costuma ser de maior porte
Editoria de Arte/Folhapress | ||
2 – As duas espécies originalmente estavam separadas pelas áreas de floresta fechada da mata atlântica…
Editoria de Arte/Folhapress | ||
…. mas é possível que o desmatamento tenha permitido que os bichos, antes separados, passassem a se achar
3 – Pesquisadores estão achando, graças a testes de DNA, animais híbridos das duas espécies. No Estado de São Paulo, nenhum animal estudado mostrou ser "puro" -praticamente todos parecem ser filhos ou netos do cruzamento dos dois animais
E DAÍ?
Se essa tendência continuar, há o risco de que boa parte da riqueza genética dessas espécies se perca, formando-se uma única grande... ( continua em http://boainformacao.com.br/2017/04/desmatamento-leva-raposas-a-iniciar-perigoso-namoro/ )
Livro 2016. As musas do terceiro milênio. Volume II. LARCEN, César Gonçalves. Mais uma lacônica viagem no tempo e no espaço: explorando o ciberespaço e liquefazendo fronteiras entre o moderno e o pós-moderno atravessando o campo dos Estudos Culturais [ebook]. / César Gonçalves Larcen - 2. Ed. - Canoas: César Gonçalves Larcen Editor, 2014. 102 p. ebook.: il. | |
Livro 2016. As musas do terceiro milênio. Volume I. LARCEN, César Gonçalves. Mais uma lacônica viagem no tempo e no espaço: explorando o ciberespaço e liquefazendo fronteiras entre o moderno e o pós-moderno atravessando o campo dos Estudos Culturais [ebook]. / César Gonçalves Larcen - 2. Ed. - Canoas: César Gonçalves Larcen Editor, 2014. 102 p. ebook.: il. | |
Livro 2014. Mais uma lacônica viagem tempo e no espaço. Segunda Edição (Ampliada). LARCEN, César Gonçalves. Mais uma lacônica viagem no tempo e no espaço: explorando o ciberespaço e liquefazendo fronteiras entre o moderno e o pós-moderno atravessando o campo dos Estudos Culturais [ebook]. / César Gonçalves Larcen - 2. Ed. - Canoas: César Gonçalves Larcen Editor, 2014. 102 p. ebook.: il. | |
Livro 2013. Pedagogias Culturais. DOWNLOAD GRATUÍTO. FREEDOWNLOAD. | |
Livro 2011. Mais uma lacônica viagem tempo e no espaço. Primeira Edição. DOWNLOAD PARCIAL. | |
Artigo 2015. Considerações sobre o ensino de Filosofia. CALLONI, Humberto. LARCEN, César G. Considerações sobre o ensino de Filosofia, sua relação com a educação e a noção de meio ambiente. In: I-Sophia: revista eletrônica de investigações filosófica, científica e tecnológica. Ano I, Volume 1, número 2 (2015) - Assis Chateaubriand: JPJ Editor, 2015. Trimestral. ISSN - 2358-7482. Pg.144-158. | |
Artigo 2014. From modern chess to liquid games. CALLONI, Humberto. LARCEN, César G. From modern chess to liquid games: an approach based on the cultural studies field to study the modern and the post-modern education on punctual elements. In: CRIAR EDUCAÇÃO Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação. UNESC, v. 3, p. 1-19, 2014. | |
Livro 2015. Tecnologia da informação e educação contemporânea. DOWNLOAD GRATUÍTO. FREEDOWNLOAD. | |
DOWNLOAD GRATUÍTO. FREEDOWNLOAD. | |
Livro 2012. As regras do Truco Cego. DOWNLOAD GRATUÍTO. FREEDOWNLOAD. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário